Emoções em tela

Maior festival de cinema ao ar livre do país, Rocky Spirit chega a sua oitava edição com filmes que provocam a audiência.

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20 de agosto de 2018

Emoções em tela

Maior festival de cinema ao ar livre do país,

Rocky Spirit chega a sua oitava edição com

filmes que provocam a audiência.

 

 

Por Otávio Rodrigues

 

 

Imagine uma mostra de filmes com temas ligados à natureza, meio ambiente, ativismo, aventura, esporte e superação. Considere um tanto de adrenalina, conceitos transformadores e mensagens de otimismo. Pense então na chance de assistir a essas produções inéditas ou recém-lançadas ao lado de alguns de seus diretores e personagens, que estarão ali exatamente para isso: encontrar o público, contar como foi fazer o filme e responder perguntas. Agora idealize esse evento em um parque, ao ar livre e de graça, com as pessoas ocupando o gramado ao redor de um enorme telão. Adicione atividades esportivas, shows e uma feira orgânica.

Essa é a fórmula do Rocky Spirit, maior festival de cinema ao ar livre do país, cuja oitava edição acontece nos dias 18 e 19 de agosto no Parque Villa-Lobos, São Paulo, com patrocínio da Omint, apoio da Shimano e da Specialized. Por trás dessa iniciativa está a jornalista e atleta Andréa Estevam, diretora da Editora Rocky Mountain, que publica a revista Go Outside e outras ligadas a esporte, aventura e qualidade de vida. “Enlouquecida” depois da experiência em um festival similar nos Estados Unidos, ela convenceu o chefe a trazer o modelo para o Brasil. Como curadora, assiste a centenas de filmes de todo o mundo, ano a ano, e seleciona os que se encaixam na programação brasileira.

Mas, pode sair frustrado quem espera ver no telão apenas um show de adrenalina, manobras impossíveis e radicalidade sem limite. “São filmes com estórias que geram alguma ação em quem assiste”, diz Andréa. “A gente quer inspirar as pessoas com ideias que as façam sair de lá querendo mudar alguma coisa.”

Atleta amadora, ela conta que começou nos carrinhos de rolimã com os irmãos e não parou mais. “Fiz corrida de aventura, um tipo de triathlon bem rústico que mistura trekking, mountain bike e canoagem, depois fui para a maratona de montanha.” Com a chegada da primeira filha e a demanda por tempo livre, vem correndo mais no asfalto. “Adoro mesmo é correr no mato. Trilha é um videogame, um transe. Você esquece o relógio, desconecta, sente seu corpo… É muito legal.“

Nesta entrevista ela conta como o Rocky Spirit começou, fala sobre os destaques deste ano, explica o propósito e as características do festival. Confira!

 

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Você é a esportista que virou jornalista ou o contrário?

Eu me apaixonei por esporte quando era pequena, sempre fez parte da minha vida. Brincava de carrinho de rolimã com meus irmãos e os moleques da rua – eu não gostava de boneca. Quando me tornei jornalista, a primeira área em que trabalhei foi a musical. Depois, a esportiva foi tomando conta e, quando vi, já estava nisso há muitos anos. O esporte é meu trabalho, é meu lazer, algo muito importante para mim.

 

E está nesta editora desde o começo?

Sim. A Rocky Mountain foi lançada em 2005 com a Go Outside, versão brasileira da respeitada Outside, a maior revista sobre vida ao ar livre do mundo, com uma história de mais de 40 anos. Depois vieram as outras revistas – Hardcore, Runner, Bycicle e Women’s Health. Portanto, temos aqui cinco títulos, todos voltados para esporte, bem estar e saúde.

 

Tudo sob seu comando?

Sou diretora executiva e de conteúdo – e acho que isso reflete a importância que o conteúdo está ganhando. Extrapolou as revistas. A gente tem festival de cinema, já fez uma prova multiesportiva… O fato é que uma boa estória é cada vez mais importante, seja qual for o meio – papel, computador ou filme. As pessoas estão cada vez mais interessadas em estórias, inspiração, mensagens positivas.

 

Como começa o Rocky Spirit?

Eu estava visitando a nave-mãe, como a gente chama a Outside norte-americana, e lá eles me falaram que eu devia conhecer o Telluride Mountainfilm Festival, que a revista era patrocinadora, que iriam estar por lá e tal. E foi uma coisa realmente incrível e transformadora, voltei de lá enlouquecida.

 

Por quê?

Telluride é uma cidadezinha minúscula naqueles lugares cenográficos do Colorado, cercada por montanhas de 5 mil metros. Todo ano, os principais diretores de filmes de esportes radicais, aventura, meio ambiente e ativismo lançam seus filmes ali. Ou seja, você está num lugar lindo, cercada de pessoas incrivelmente inspiradoras, depois de assistir àqueles filmes com temas pelos quais você é apaixonada… Mexeu muito comigo, posso resumir assim, e na volta comecei a falar com meu chefe: “Isso é muito bacana, a gente tem de fazer!”. No ano seguinte, consegui levá-lo para ver, ele achou legal também, e em 2011 começamos a fazer o festival aqui.

 

É uma parceria?

A gente é representante do Mountainfilm no Brasil. Todo ano vou para lá, tenho esse prazer enorme de assistir a tudo que conseguir, então escolher os filmes que têm a cara do Brasil, os que trazem uma mensagem universal e “conversem” com mais gente. Depois, complementamos a programação com filmes nacionais nessa linha e, assim, acontece o Rocky Spirit. Estamos na oitava edição.

 

Qual a programação deste ano?

São cerca de 30 filmes, entre nacionais e internacionais, ao longo de dois dias – 18 e 19 de agosto – no Parque Villa-Lobos. Boa parte foi lançada no final de maio em Telluride e ainda não exibida em outro lugar. Teremos a presença do surfista big rider Carlos Burle, que vai mostrar seu filme. Teremos Renata Falzoni com um documentário sobre a importância da bike na mobilidade. Depois das exibições, eles pegam o microfone e contam como fizeram o filme, as pessoas podem fazer perguntas, rola um bate-papo informal.

 

Que outros filmes chamaram sua atenção?

Os que me comovem não são necessariamente os que têm mais adrenalina. Há um filme sobre mountain bike do Nepal, país conhecido pelas montanhas, pelo montanhismo, mas também pelas crianças pobres, carentes. E um menino amava bicicleta a tal ponto que fundiu uma para ele, construiu uma bicicleta e pedalava por ali, até que um gringo viu e, “como assim?”, deu uma bicicleta ao garoto. Hoje ele está competindo pelo Nepal. Não é demais? Fico arrepiada, já assisti três vezes.

 

As mulheres estão bem representadas?

Sim! Os olhares se voltaram muito para as mulheres e isso está repercutindo nos filmes, aqui e lá fora. Tem três filmes nessa linha muito legais. Um é As Mulheres são Montanhas, que mostra três escaladoras de São Bento do Sapucaí, como conseguiam escalar com maternidade, trabalho e tal. Outro é Três Mulheres e uma Montanha, sobre três gerações da mesma família que vivem no Itatiaia: a mais velha, Luiza, é ambientalista e cuida do lugar há décadas, a sobrinha é corredora, treina lá, e a outra sobrinha pequena já anda nas trilhas. Lá de fora, também com mulheres e montanhas, vem o filme Mothered by Mountains.

 

Há algo em comum unindo os filmes do festival?

O slogan é “Imagens, Ideias, Ação”. Porque não é só imagem bonita; ele traz ideias para fazer você pensar, conceitos que gerem algum tipo de ação. Quem nunca foi, pensa que vai ver filme de trilha, com adrenalina – vai ter adrenalina, sim, mas também muitas estórias que geram ação em quem assiste. A gente quer inspirar as pessoas, ter filmes com ideias que fazem você sair de lá querendo mudar alguma coisa.

 

Como assim?

É um momento para você sentar e parar, olhar para a tela, mergulhar naquelas estórias e sair de lá com vontade de ser mais do que você é de verdade. Tem muitos filmes que falam das exigências do mundo, de “sair da Matrix”, e esses podem mesmo gerar um certo incômodo. Mas é importante parar para pensar: até que ponto você quer isso?, até onde vai? E a experiência de assistir a tudo em um telão, dividindo os momentos com mais pessoas, é muito diferente do que ver no computador. Sem falar no lance de conhecer os protagonistas, os diretores.

 

Como é fazer um festival ao ar livre?

É ao ar livre e de graça, o que me encanta muito – é como um presente para a cidade. O público fica na grama, com uma tela gigante, com 150 metros quadrados, altíssima qualidade de som e luz. É um evento premium, com qualidade em todos os aspectos. É para assistir com os amigos, a família, o cachorro… Tudo muito democrático.

 

E o público fica na grama, mesmo?

Sim. Na primeira edição, as pessoas viram que não tinham onde sentar, estava frio, enfrentaram algum perrengue, mas nos anos seguintes, aos poucos, passaram a entender a proposta. Hoje a galera leva cadeirinha de praia, sleeping bag, fogareiro para fazer pipoca, vinho, enormes cobertores, reúne os amigos… É bem legal.

 

Atividade esportiva é algo divertido, concorda?

Eu acho. Este ano não teremos nenhum filme que fale de competição. Porque o “X” da questão não é competir e ser o melhor do mundo; é descobrir o prazer de sair explorando, de usar seu corpo na natureza – esse é o grande lance. Os filmes escolhidos mostram isso: são pessoas que acharam o esporte tão divertido, que o levaram para outro nível, conseguiram fazer coisas surpreendentes a partir daí. Isso faz do festival um sopro de ar fresco, alegria e inspiração. É a oportunidade de pensar um pouco fora da caixa, de ver outras estórias, outros horizontes, de pensar que sua vida nem sempre precisa seguir aquele roteiro que você imaginou.

 

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