Indo e voltando inteiro: os segredos da jornada saudável

Feras em alguma especialidade e viajantes frequentes, médicos da rede credenciada falam sobre o que é importante observar para não ter problemas durante ou após uma linda viagem.

Publicado por administrator

20 de agosto de 2018

Indo e voltando inteiro: os segredos da jornada saudável

Feras em alguma especialidade e viajantes frequentes, médicos da rede credenciada falam sobre o que é importante observar para não ter problemas durante ou após uma linda viagem.

 

por Angélica Queiroz

O poeta Mário Quintana dizia que viajar é mudar a roupa da alma. Talvez seja até mais do que a roupa, pois quando conhecemos lugares novos e culturas diferentes conseguimos sair da rotina, o que faz bem para corpo e mente. A toda hora pesquisas científicas sugerem que viajar pode trazer benefícios à saúde, como a melhora da pressão sanguínea, a habilidade de se recuperar do estresse e a qualidade do sono. Claro, há também alguns problemas nos espreitando em pontos turísticos, nos aeroportos e aviões, nos restaurantes, hotéis e outros espaços com os quais, felizmente, não estamos acostumados – ora, a ideia não é sair da rotina? Bastam alguns cuidados, portanto, para conciliar o que planejamos para a viagem com seus naturais imprevistos. No mês dedicado ao “Viajar”, ouvimos médicos de várias especialidades para saber ao certo o que pode dar errado e ajudar os viajantes a se prepararem melhor para o que der e vier. Boa leitura, boa viagem!

 

* * *

 

Antes da viagem

Ocupados com compra de passagens, reserva de hotéis e pesquisa de locais para visitar, quase sempre esquecemos de levar em conta o tipo de viagem que vamos fazer e se estamos fisicamente peparados para ela. O ortopedista dr. Maurício Póvoa Barbosa lembra que o ideal é estar sempre em forma, com a resistência óssea e muscular mais ou menos em dia, em vez de correr atrás do prejuízo às vésperas do embarque. “Se você não consegue fazer isso no dia a dia e sabe que vai caminhar bastante na viagem, precisa começar a trabalhar o quanto antes para adquirir um condicionamento mínimo de caminhada.” Ele destaca que, em uma viagem, as pessoas acabam caminhando facilmente de 15 a 20 quilômetros por dia, enquanto a média na rotina normal não costuma ultrapassar os dois quilômetros. “Como o passeio por parques, museus e ruas novas é sempre agradável, a gente acaba não percebendo.” Junto a uma avaliação cardiológica, o especialista recomenda preparo gradativo alguns meses antes da jornada. “Se o passeio, por exemplo, vai exigir que você ande muito, como no caso do Caminho de Santiago de Compostela, vá aumentando as distâncias percorridas para chegar razoavelmente preparado.”

 

Pelo caminho

Não importa como você vai: ficar muito tempo parado na mesma posição, sentado com as pernas para baixo, pode gerar algum tipo de desconforto, como inchaço na perna, dor ou cãibra. Cirurgiã vascular, a dra. Anna Paula Sincos afirma que 95% das queixas vasculares relacionadas com viagens são os edemas nos membros inferiores e tudo o que deriva disso – incluindo a temida trombose. Essas situações ocorrem especialmente nas viagens de avião, por conta não só da posição, mas também da pressurização da cabine. Para aliviar o desconforto, seja em jornadas aéreas ou terrestres, é bom simular movimentos de frear com o pé, o que ativa a circulação. Em geral, viajantes experientes escolhem assentos no corredor, porque fica mais fácil levantar e fazer caminhadas. A alimentação, segundo a dra. Anna Paula, também conta. Fora da rotina, é comum que as pessoas consumam muitos alimentos ricos em sal e farinha, o que contribui para a retenção de líquido, mas em contrapartida pode causar inchaços, aumentando chance de edema. “Procure manter a dieta o mais saudável possível, evitar bebida alcoólica, especialmente nos voos, e beber bastante água”. Para além de sapatos e roupas confortáveis, em alguns casos o médico indica o uso da meia elástica, que pode aliviar sintomas e evitar inchaço, previnindo outras complicações. “É importante uma avaliação prévia, para ver se existe alguma contraindicação para o uso desse tipo de meia e para que o profissional escolha a melhor compressão para essa pessoa.”

 

Meu pé, meu querido pé

Uma boa ideia nas viagens é deixar de lado sapatos de salto alto ou mesmo sapatilhas, que não absorvem impacto, e levar tênis de corrida, que costumam oferecer tecnologia adequada para longas caminhadas. “O ideal é usar calçados confortáveis, deixando os sofisticados para um momento do dia em que você não vai andar muito”, aconselha dr. Maurício Póvoa Barbosa, ortopedista com pós-graduação em Pé e Tornozelo. Segundo ele, os problemas mais recorrentes são as fraturas de estresse, principalmente no pé e tornozelo e, em seguida, no joelho. “Muitas vezes a pessoa começa a ter uma dor, um pouco de inchaço, mas toma um analgésico e continua caminhando. Aí, quando volta da viagem, descobre a fratura e tem de ficar meses parada.”

 

Atenção com a bagagem!

É preciso cuidado, ainda, na hora de carregar a bagagem, especialmente os volumes mais pesados, que podem causar lesões no ombro e na coluna. “Em trilhas, o ideal é usar mochila bem firme, que prenda nas costas, no peito e na cintura”, diz o dr. Maurício Póvoa Barbosa, ortopedista com experiência cirúrgica internacional em países como Itália, Áustria e Estados Unidos. “A mochila precisa estar bem presa para diminuir a pressão na coluna lombar.” O ideal, conforme ele, é que essa carga não passe muito de 15 a 20% do peso da pessoa. “Para carregar mais do que isso, é preciso se condicionar antes.” Outro famigerado capítulo é o da mala – que já virou sinônimo de problemas que andam com a gente. “Tive um paciente que fez uma hérnia de disco aguda carregando malas em escada de aeroporto. É preciso tomar cuidado, usar malas de rodinhas, evitar carregar esse peso em escadas, usar elevadores e escadas rolantes, prestar muita atenção na hora de colocar bagagem no carro. Um mínimo de preparo abdominal já colabora para não sobrecarregar a coluna.”

 

Um capítulo para os aventureiros

Roteiros que envolvem esqui, snowboard, escalada, mergulho ou saltos sempre trazem riscos extras, especialmente entre viajantes que se lançam nessas práticas sem o devido treinamento e preparo. “Após as temporadas de esqui ou snowboard, recebo muitos pacientes com lesões no joelho e fratura de punho, por vezes casos cirúrgicos.” O olhar do especialista, neste caso, inclui a experiência própria: ele viaja para esquiar com a família pelo menos uma vez ao ano. “Faço com que todos em casa frequentem a academia três meses antes, para diminuir o risco de lesões. E não economizo em equipamento de segurança, essenciais para quem não é esquiador de alto nível, como a maioria dos brasileiros.”

 

O cuidado na hora certa

Se a dor de alguma lesão persiste, melhor procurar atendimento médico ainda antes de voltar para casa. “Você pode ter uma complicação no voo e, em alguns casos, é preciso imobilização”, explica o ortopedista dr. Maurício Póvoa Barbosa. Ele conta a história de um paciente que teve um ferimento grave no joelho em uma trilha em Machu Picchu e acabou não procurando atendimento por lá, o que agravou as coisas e fez com que ele precisasse de cirurgia na volta. “Quando você pega um voo com um quadro preocupante começando, a pressão atmosférica e o oxigênio mais rarefeito podem agravar a situação”.

 

Querida, eu trouxe as crianças!

Se as crianças vão junto, conforme orientação do dr. Woady Jorge Kalil Filho, é importante que os pais procurem antes um pediatra, de preferência um que já conheça o histórico da criança e que possa, por exemplo, indicar medicamentos para resolver problemas simples ao longo da viagem. “São comuns entre crianças saudáveis as otites e as complicações respiratórias, ocorrências provocadas pelas mudanças de clima, pressurização e alteração no sono, entre outros.” No caso dos bebês, segundo o pediatra, é preciso respeitar o primeiro mês de vida, mesmo para viagens curtas, e esperar pelo menos até o terceiro mês para viagens longas. E levando em conta que a imunidade da criança só se aproxima da imunidade do adulto próximo aos cinco anos, ele recomenda aos pais ficarem de olho na alimentação dos pequenos, tentando mantê-la o mais próximo possível da rotineira. “A maioria dos países não permite a entrada de alimentos trazidos por viajantes, mas é possível encontrar ingredientes básicos em supermercados locais e, se a estrutura permitir, é legal preparar a comida das crianças, principalmente em países onde os hábitos alimentares são bem diferentes dos nossos.”

 

Os pequenos não dão trabalho

O dr. Woady Kalil, que já atou em diversas instituições médicas francesas e tem experiência em assistência internacional, destaca a importância de um bom seguro de viagem, especialmente quando se está com os filhos. Segundo ele, entre as condições que podem exigir atendimento médico está a febre alta ou persistente, dores de cabeças, vômitos, dores de ouvido e dores abdominais intensas acompanhadas de vômitos ou diarréia ou tosses persistentes. Por fim, um alento para os pais: a incidência de acidentes com crianças durante viagens é mais baixa do que em casa. “Por incrível que pareça, a criança é a que menos tem problemas, principalmente em comparação ao idoso – até o adulto vem antes da criança.” Para o dr. Woady Kalil, o mérito é dos pais. “Nas viagens, eles costumam ficar mais atentos com as crianças.”

 

* * *

 

SÁBIOS CONSELHOS

As dicas de ouro dos especialistas para quem vai viajar

  • Prepare-se bem

Preparo físico geral e treinamento específico para o tipo de viagem que se vai fazer são cruciais para evitar problemas.

  • Coma com moderação

Excessos à mesa e disposição para provar certas delícias estranhas à rotina alimentar podem atrapalhar até os mais lindos sonhos de viagem.

  • Movimente-se

No avião, no trem ou no ônibus, levante-se de vez em quando e ande um pouco para estimular a circulação sanguínea nas pernas.

  • Vá com leveza

Leve só o essencial, use malas com rodinhas, tome cuidado na hora de levantar e descer volumes dos compartimentos.

  • Divirta-se com prudência

Não faltarão apelos comerciais e até incentivos de conhecidos para uma aventura radical durante a viagem. Se não é sua praia e/ou você não está preparado, melhor passar.

  • Pense nos pés

Opte por tênis de corrida em vez de sapatos ou sapatilhas, mas evite estrear qualquer calçado na viagem.

  • Organize sua agenda

Especialistas recomendam alternar períodos de atividade e relax: ficar sem fazer nada na viagem é importante para uma boa recuperação do corpo e da mente.

 

* * *

_(DESTAQUE / entrevista dr. Fernando Valério)_

 

 

Viajando antes da viagem

Veja o que diz este especialista em Gastroenterologia e Nutrição sobre os cuidados que devemos ter nas viagens – e como se preparar para as fortes emoções que nos aguardam em restaurantes do outro lado do mundo!

 

Todos sabem que estar atento a uma dieta saudável e tomar algumas precauções à mesa pode fazer toda a diferença. Mas, quando viajamos, quase invariavelmente saímos de nossa rotina alimentar. Conversamos com o dr. Fernando Valério, especialista em Gastroenterologia, Proctologia, Nutrologia e Nutrição, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, que tem várias recomendações para quem quer aproveitar a viagem sem descuidar da saúde. Confira!

 

Que cuidados devemos tomar quando saímos de nossa rotina alimentar?

A primeira coisa é começar a viajar antes de viajar, tentar entender onde vai ficar e que tipo de alimentação terá disponível. Pesquise o local, saiba o histórico dele, dê uma lida na internet, veja o que as pessoas acham. Quem gosta de turismo gastronômico e quer experimentar a comida local, deve tentar buscar com mais cuidado ainda – por exemplo, se o local que a serve é recomendado, o que hoje é algo simples de se checar. Também é importante lavar bem as mãos, observar o ambiente, como as pessoas que servem se comportam, se a comida está há muito tempo ali, analisar o aspecto e a coloração daquele alimento… Enfim, se vale a pena comer lá ou não.

 

Nosso organismo não é bastante adaptável?

A gente tem um hábito alimentar e nosso corpo respeita isso. Ele não adivinha que você viajou, por isso precisamos inserir com calma a nova alimentação do local. Você não pode chegar no primeiro dia e querer comer tudo aquilo que viu na internet. Nosso corpo não espera isso da gente. No começo da viagem, recomendo alimentações mais leves até passar o cansaço da viagem e o corpo se ambientar, para depois começar a experimentar alguma coisa mais extravagante da alimentação local.

 

Com que tipo de alimento devemos ter mais cuidado?

Produtos perecíveis são mais problemáticos. Recomendo também uma enorme atenção com frutos do mar, que rapidamente começam a se deteriorar e podem causar problemas, além do fato de que várias pessoas têm sensibilidade a esse tipo de alimento. Outro aspecto, com o qual pessoas com algum tipo de alergia precisam ficar bem atentas, é que muitas vezes os pratos vêm meio prontos e não dá para fazer a mínima ideia do que tem ali dentro. Pessoas alérgicas precisam pesquisar como o alimento é preparado e o que contém, porque pode haver algum componente que lhe é impróprio. Se você não sabe se é alérgico àquele alimento ou não, melhor não se arriscar – ou ter sempre algum medicamento à mão.

 

Que tipo de medicamentos podemos levar em uma viagem?

Recomendo – e sempre levo quando vou viajar – medicamentos para vômito, náusea e diarréia. O kit viagem tem de conter remédios para esses problemas, que são os mais comuns.

 

Tudo bem exagerar de vez em quando e, depois, recorrer aos conhecidos remédios para azia e má digestão?

O ideal é não chegar a esse ponto, porque se você está tomando algum remédio é porque, de alguma maneira, seu corpo foi agredido. Se você faz isso rotineiramente, está agredindo e resolvendo, agredindo e resolvendo… Não é uma das táticas mais inteligentes. Eu não faria isso e, sim, tentaria me cuidar, comendo de maneira adequada, até para poder aproveitar melhor a viagem.

 

Qual a diferença entre um simples desconforto gastrointestinal e algo que merece certa atenção?

Você tem que ficar atento aos sinais de alarme, ou seja, sintomas que passam do habitual. Que sinais são esses? Febre alta, evacuar ou vomitar de maneira que você não consiga mais se alimentar, desmaios, fraqueza, sangue nas fezes. Se você apresentar algum desses sintomas, precisa procurar ajuda médica.

 

E quanto aos cuidados com a água?

Em lugares que sabiamente têm muitos problemas de higiene, como Índia, Camboja, Vietnã e outros destinos diferentes, a recomendação básica é que se tome somente água mineral de garrafa, de preferência de uma marca conhecida, que você olhe e tenha segurança.

 

Que tipo de lanche podemos levar?

Nas viagens de avião, o que a gente pode levar é produto industrializado. Recomendo bolacha de água e sal ou integral, que você pode comer e quebrar o galho por um tempo. Já em viagens de carro, é possível levar frutas, sucos, lanches de pão integral, entre outros produtos que não estraguem.

 

Como são suas viagens?

Como tenho filho pequeno, essas recomendações espelham, mais ou menos, minha conduta com a família. Quando saio do Brasil, já vou imaginando os restaurantes, levo uma lista pronta, sempre pesquiso bem, observo naqueles sites de viagem se alguém está criticando o lugar, se alguém passou mal… Hoje a gente tem como ser menos turista e mais esperto. A gente lá em casa faz isso, viaja pesquisando antes, e não costuma ter qualquer problema. É sempre bom, também, ter um álcool em gel, porque em viagens se anda muito em locais públicos, vale a pena limpar as mãos depois de tocar em algumas coisas. Não custa, é fácil de carregar e pode evitar muitos problemas. Essa higiene manual faz uma diferença gigantesca, mais do que as pessoas imaginam.

Assine nossa Newsletter

E-mail cadastrado com sucesso