Transtornos mentais causados pelo álcool: entenda o que são

Veja quais as consequências do vício que chega a atingir 4 milhões de brasileiros

Publicado por Juliana Brito

11 de janeiro de 2023

O álcool está presente em grande parte do dia a dia da população brasileira e é considerado algo comum para a maioria das pessoas. Porém, pode ser um grande problema quando usado em excesso. Só no Brasil, entre os consumidores dessa substância, 18,8% fazem uso abusivo, sendo que entre os homens esse número pode chegar a 25,4%, segundo a Vigitel de 2019.

Assim como outras tantas drogas, o consumo de álcool, além de ser maléfico para a saúde, também pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais ou ainda agravá-los.

Neste texto, você vai conferir o que é o alcoolismo, como e por que ele pode se manifestar e as consequências do álcool para a saúde mental. Para nos ajudar, conversamos com a Dra. Yara Azevedo Prandi, psiquiatra credenciada Omint. Veja!

• O alcoolismo e a naturalização do consumo de álcool no país
• Qual a relação do alcoolismo com a saúde mental?
• Como tratar o alcoolismo?

O alcoolismo e a naturalização do consumo de álcool no país

O alcoolismo caracteriza-se pela dependência do álcool. O indivíduo não consegue ficar sem beber e pode desenvolver uma tolerância muito maior pela substância. Ou seja, precisa ingerir doses muito maiores para ter o mesmo efeito. Caso fique sem, começa a apresentar sintomas de abstinência como ansiedade, tremores, irritabilidade, entre outros.

O alcoolismo é considerado uma doença pela Organização Mundial de Saúde desde 1967. Dados divulgados em pesquisas recentes ajudam a confirmar que o consumo de álcool precisa, de fato, ser tratado como um problema de saúde pública. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 divulgou que 26,4% da população com 18 anos ou mais costuma consumir bebida alcoólica pelo menos uma vez na semana, sendo que, em 2013, esse percentual era de 23,9%. Outro número alarmante da pesquisa é que 17% dos entrevistados haviam feito uso abusivo do álcool nos últimos 30 dias e 17% afirmaram ter dirigido após o uso nos últimos 12 meses.

A cultura brasileira acaba contribuindo para esses dados. O álcool é aceito socialmente no País e, mesmo com a proibição da substância para menores de 18 anos, é comum ver adolescente fazendo o consumo até mesmo em casa.

Não é à toa que a ingestão de álcool no Brasil está acima da média. Segundo a OMS, entre 143 países avaliados, a média de consumo foi de 6,4 litros por pessoa, enquanto no Brasil esse número ficou em 8,9.

Com a naturalização do consumo e a fácil relação entre álcool e diversão, fica muito mais fácil desenvolver a dependência.

Mas você pode estar se perguntando: quando consigo saber se é alcoolismo? E existem alguns fatores que podem ser observados.

– Consumo de bebida alcoólica como justificativa para conseguir “aguentar” a rotina diária ou fora de eventos sociais, onde o consumo é mais tolerado.

– Desenvolvimento de tolerância à substância, sendo necessário aumentar o consumo para obter os mesmos efeitos.

– Sintomas de abstinência, como tremores, irritabilidade, ansiedade, sudorese, taquicardia e uma vontade incontrolável de beber.

– Tentativa de esconder as evidências após o consumo de álcool.

– Tendência a apresentar perda de memória e confusão mental ao ingerir bebidas alcóolicas em excesso.

É claro que observar somente alguns sintomas não é suficiente para o diagnóstico de alcoolismo. Um profissional precisa ser visitado para consolidar a informação e direcionar para o tratamento necessário. Caso identifique algum desses sintomas, procure ajuda imediatamente.

Outro fator importante sobre a dependência é a genética (responsável por 60% das chances) e a idade. Quando o consumo de álcool ocorre na adolescência ou há casos de alcoolismo na família, as chances de dependência são muito maiores. Por isso, é necessário cautela.

Qual a relação do alcoolismo com a saúde mental?

Como já vimos até aqui, o álcool é uma substância aceita socialmente e muitas vezes não é considerada perigosa. Porém, quando falamos da relação do álcool com a saúde mental, é necessário prestar atenção em alguns fatores.

Os efeitos do álcool no corpo são bem conhecidos: relaxamento logo nas primeiras doses, euforia, perda de timidez, expansividade e perda do senso crítico, podendo a pessoa ficar mais feliz ou até mesmo mais agressiva, e dificuldade nos reflexos.

Os efeitos “positivos” logo de início, o fácil acesso e a alta aceitação da substância na sociedade fazem com que o consumo seja normalizado e tolerado. Porém, muitas vezes essa substância pode estar sendo utilizada para mascarar outros problemas que já estão presentes, como se o álcool ajudasse a esquecê-los.

Um bom exemplo disso é o aumento do consumo de álcool durante a pandemia da Covid-19. Um estudo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) constatou que houve o aumento de consumo de álcool durante 2020 e 2021, pois as pessoas estavam buscando algum escape do sentimento de isolamento, solidão e ansiedade causado pela pandemia.

Apesar desse período não refletir o histórico do alcoolismo e não ser a causa principal, é um fator importante para observarmos como o álcool possui a função de “escape” frente a uma situação difícil, facilitando o entendimento do uso em detrimento dos transtornos psicológicos.

Por exemplo, um indivíduo com depressão recorre ao álcool por uma felicidade ou relaxamento momentâneos, que tem uma piora quando o efeito passa. Isso acaba criando um efeito de ciclo, no qual a pessoa está sempre buscando pela substância, para que esse efeito “não passe”, estabelecendo, assim, a dependência e todas as consequências físicas e psicológicas decorrentes disso.

Inclusive, a depressão pode acabar desencadeando diversos outros comportamentos nocivos. Se você tem desconfiado que pode estar depressivo ou pode estar desenvolvendo uma depressão, você deve procurar um profissional da saúde mental o quanto antes. Para ajudar você a identificar se é hora de procurar um desses profissionais, você pode fazer o teste aqui na nossa calculadora de depressão.

Segundo estudo feito pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), que relaciona transtornos psicológicos com o consumo de álcool, é possível afirmar que o alcoolismo e outros transtornos psiquiátricos coexistem e dificultam ainda mais o tratamento.

Pessoas com transtornos psicológicos que consomem álcool podem ser mais difíceis de serem tratadas, uma vez que é como se tivessem o “adicional” da dependência em uma substância, além do próprio transtorno. É como se uma coisa potencializasse a outra.

A falta de cuidados com a saúde mental, a normalização e fácil acesso ao álcool podem estar contribuindo para o aumento desses tipos de caso nos últimos anos.

O álcool pode ser utilizado como válvula de escape também por pessoas com transtorno de personalidade antissocial, porque torna mais fácil a socialização, assim como aquelas com transtorno de personalidade bipolar podem usar o álcool como automedicação em seus episódios de mania. Ou seja, em qualquer uma dessas situações, o álcool é utilizado de alguma forma para “fugir” um pouco da realidade.

Por fim, podemos entender que o uso abusivo do álcool é prejudicial em qualquer circunstância e pode levar a sérias consequências a longo prazo, seja para a saúde física ou mental.

Como tratar o alcoolismo?

Antes de qualquer coisa, o alcoolismo deve ser avaliado por um psiquiatra, pois somente ele está habilitado a diagnosticar a existência ou ausência da doença. A partir desta avaliação personalizada, o psiquiatra irá preconizar os tipos de tratamentos recomendados para cada situação.

O tratamento dependerá da situação de cada indivíduo, até mesmo se está relacionado a algum transtorno mental ou não.

A psicoterapia individual, em família e em grupo, para o compartilhamento de experiências, pode ser essencial nesse momento, assim como algumas medicações e consultas psiquiátricas necessárias.

O apoio familiar e dos amigos também é fundamental para que o indivíduo consiga se manter longe do álcool. Ter pessoas que o apoiam pode fazer toda a diferença.

No ambiente de trabalho, é necessário que a organização saiba ouvir seus colaboradores e oferecer suporte para situações como essa, auxiliando ainda mais na situação.

Neste mês, a campanha Janeiro Branco visa reforçar as ações que colaboram para a saúde mental da população – o combate ao alcoolismo também faz parte dessa luta. A qualquer sinal de que o alcoolismo pode estar presenta, procure um psiquiatra.

Compartilhe o artigo com sua família e amigos para que eles, também, se informem sobre o assunto!

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