É comum que, diante de sintomas como dor de cabeça, febre ou insônia, muitas pessoas recorram a medicamentos por conta própria, sem orientação médica. Afinal, na correria do dia a dia, buscar uma solução rápida parece a alternativa mais conveniente. O problema é que esse hábito, tão enraizado na cultura brasileira, pode trazer sérios riscos à saúde.
O uso de medicamentos, quando feito sem acompanhamento ou de forma inadequada, pode resultar em efeitos adversos, intoxicações, agravamento de doenças e até resistência a tratamentos. Por isso, falar sobre o uso racional de medicamentos é uma pauta essencial de saúde pública.
Neste conteúdo, vamos explicar o que é o uso racional de medicamentos, por que ele deve ser prioridade dentro e fora das instituições de saúde e quais os riscos da automedicação.
1. O que é o uso racional de medicamentos?
O uso racional de medicamentos é uma diretriz estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1985. Segundo a entidade, essa prática acontece quando “os pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade”.
Ou seja: trata-se de garantir que cada paciente receba o medicamento certo, na dose certa, pelo tempo certo e apenas quando necessário. Isso vale tanto para a prescrição médica quanto para o comportamento do paciente no uso diário.
A Política Nacional de Medicamentos reforça essa abordagem ao prever que o uso racional contribui para o cuidado integral em saúde e para a sustentabilidade do sistema público. Ela também reconhece que a orientação adequada ao paciente é parte essencial do processo terapêutico.
2. Por que o uso racional de medicamentos é tão importante?
Em um cenário onde o uso de medicamentos se tornou quase automático, refletir sobre o consumo consciente é urgente.
Segundo a revista Ciência & Saúde Coletiva, cerca de 35% dos medicamentos adquiridos no Brasil são resultados de automedicação. O problema vai além da compra sem receita. A OMS estima que até 50% dos medicamentos no mundo são usados de forma inadequada, seja pela prescrição errada, pela interrupção precoce, seja por falhas no armazenamento.
Esse comportamento afeta diretamente a saúde das pessoas e o sistema público. Segundo a Fiocruz, os medicamentos são responsáveis por 27% das intoxicações no País e 16% das mortes por esse motivo.
Além disso, quando um medicamento é usado sem necessidade, ele pode mascarar sintomas, atrasar diagnósticos e agravar doenças. No caso dos antibióticos, o uso incorreto contribui para a resistência bacteriana, ameaça crescente que dificulta o tratamento de infecções comuns.
3. Consequências do uso incorreto de medicamentos
O uso irracional de medicamentos está associado a uma série de consequências graves. Entre as principais, destacam-se:
- reações alérgicas e adversas: o uso sem acompanhamento pode desencadear reações imprevistas, como náuseas, tontura, erupções cutâneas ou até quadros graves de anafilaxia;
- intoxicações: segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), analgésicos e anti-inflamatórios são os principais responsáveis por intoxicações medicamentosas no País;
- interações perigosas: a combinação de diferentes fármacos, ou mesmo com bebidas e alimentos, pode reduzir a eficácia ou potencializar efeitos colaterais;
- dependência e abuso: o uso sem controle de ansiolíticos, antidepressivos ou analgésicos pode levar à dependência química;
- resistência microbiana: quando usados sem necessidade ou interrompidos antes do tempo, os antibióticos favorecem o fortalecimento de bactérias resistentes, tornando tratamentos futuros menos eficazes.
Essas consequências impactam diretamente o bem-estar individual e geram custos elevados ao sistema de saúde com internações e tratamentos prolongados.
4. O papel do farmacêutico na promoção do uso racional
O farmacêutico é uma peça-chave na promoção do uso racional de medicamentos. Além de distribuir os medicamentos conforme a orientação dos profissionais de saúde, ele também desempenha um papel educativo.
Segundo o Ministério da Saúde, o farmacêutico deve garantir que o paciente compreenda como usar o medicamento, conheça possíveis efeitos colaterais e saiba como armazená-lo corretamente.
Além disso, o farmacêutico:
- identifica erros de prescrição;
- orienta sobre interações medicamentosas;
- esclarece dúvidas frequentes sobre o uso;
- incentiva o retorno ao médico quando necessário.
Esse profissional também contribui para o combate à automedicação ao orientar o paciente no ponto de venda e ao recusar a venda de medicamentos controlados sem receita.
5. Boas práticas para o uso consciente de remédios no dia a dia
Adotar práticas conscientes no uso de medicamentos é uma forma de cuidado com a própria saúde e com a coletividade. Algumas orientações essenciais incluem:
- tomar medicamentos apenas com prescrição ou orientação profissional;
- respeitar horários, doses e duração do tratamento;
- evitar reutilizar medicamentos antigos ou de outras pessoas;
- não interromper o tratamento sem conversar com o profissional de saúde;
- armazenar corretamente, longe da umidade e da luz intensa;
- descartar medicamentos vencidos em pontos de coleta adequados — nunca no lixo comum ou no vaso sanitário.
Essas atitudes simples fazem parte do que a OMS chama de utilização racional dos medicamentos e ajudam a reduzir riscos, evitar desperdícios e preservar a eficácia dos tratamentos.
6. O que dizem as políticas públicas sobre o tema?
O uso racional de medicamentos é reconhecido como diretriz fundamental das políticas públicas de saúde no Brasil. A Política Nacional de Medicamentos, de 1998, já estabelecia entre seus objetivos a promoção do uso racional de medicamentos em todos os níveis do SUS.
Em 2007, o Ministério da Saúde criou o Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamentos (CNPURM) para articular estratégias e ações entre governo, academia, profissionais de saúde e sociedade civil.
Além disso, a Anvisa atua com campanhas de farmacovigilância, incentivando a notificação de efeitos adversos e a fiscalização do comércio irregular.
Essas iniciativas buscam garantir que o acesso à medicação seja ampliado com qualidade e segurança, e não se transforme em mais um fator de risco à saúde da população.
7. Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos: qual o objetivo?
Comemorado em 5 de maio, o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos foi criado para conscientizar a população sobre os perigos da automedicação e os benefícios do uso responsável.
A data é marcada por campanhas em farmácias, escolas e unidades de saúde, com foco na educação para o consumo consciente. É também a oportunidade de ampliar o diálogo entre profissionais da saúde e usuários, incentivando o autocuidado com responsabilidade.
Segundo a Anvisa, o objetivo da data é lembrar que o medicamento certo, usado do jeito errado, pode fazer mal.
8. Como conscientizar a população sobre o tema?
Promover o uso racional exige estratégia de comunicação ampla, acessível e contínua. Isso passa por:
- campanhas educativas em larga escala, com linguagem simples e visual;
- capacitação dos profissionais de saúde para promover orientações mais efetivas;
- inserção do tema nas escolas para formar uma nova geração mais consciente;
- apoio das mídias tradicionais e digitais;
- parcerias com farmácias e drogarias, que são pontos de contato direto com a população.
A educação em saúde é a principal ferramenta para transformar o comportamento da população e combater práticas de risco, como o uso excessivo ou desnecessário de medicamentos.
9. Dúvidas frequentes sobre o uso racional de medicamentos
É seguro tomar o mesmo medicamento que outra pessoa usou para sintomas semelhantes?
Não. Cada organismo responde de forma diferente. O que é seguro para um pode ser prejudicial para outro.
Posso parar de tomar o remédio quando os sintomas melhorarem?
Apenas se o profissional responsável autorizar. Em muitos casos, como antibióticos, o tratamento precisa ser seguido até o fim para ser eficaz.
Qual é o risco de guardar e reutilizar medicamentos antigos?
O medicamento pode estar vencido ou inadequado para o quadro atual, além de haver risco de interação medicamentosa.
10. Como você pode contribuir para o uso racional de medicamentos
Promover o uso racional de medicamentos é um compromisso coletivo. Começa com pequenas atitudes no cotidiano e se estende à atuação dos profissionais de saúde, instituições e políticas públicas.
Você pode contribuir:
- evitando a automedicação;
- buscando sempre orientação profissional;
- compartilhando informações confiáveis com outras pessoas;
- participando de campanhas de conscientização.
Um medicamento pode salvar vidas, mas, quando mal utilizado, também pode colocar a saúde em risco. Por isso, o uso racional é mais do que uma escolha: é uma responsabilidade.