A afasia é um distúrbio que compromete a capacidade de compreender e expressar a linguagem, afetando diretamente a comunicação.
Embora o termo ainda seja pouco conhecido fora do meio médico, essa condição é mais comum do que se imagina, especialmente em pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC) ou algum tipo de lesão cerebral.
Neste artigo, você vai entender o que é afasia, suas principais causas e sintomas, além de descobrir como ela se diferencia de outras condições neurológicas.
Também vamos abordar o processo de diagnóstico, as possibilidades de tratamento e compartilhar dicas práticas para lidar com os desafios do dia a dia. Aproveite e boa leitura!
O que é afasia?
A afasia é um distúrbio da fala e da linguagem causado por alterações neurológicas. Em termos simples, é quando o cérebro encontra dificuldades para processar a comunicação verbal e escrita. Isso pode se refletir na fala, na compreensão do que é dito, na leitura e até na escrita.
A palavra vem do grego a (sem) + phasis (fala), ou seja, literalmente significa “sem fala”. Porém, a afasia vai muito além de não conseguir falar: ela pode se apresentar de diferentes formas, dependendo da área cerebral afetada.
É importante destacar que a afasia não está relacionada à inteligência da pessoa. O paciente continua capaz de raciocinar, mas encontra obstáculos para transformar pensamentos em palavras ou interpretar o que ouve e lê.
Qual a diferença entre afasia e disfasia? São a mesma coisa?
- Afasia é um termo usado nas áreas da medicina e neurologia e descreve a perda parcial ou total da linguagem. Isso acontece por causa de uma lesão cerebral adquirida.
- Disfasia é utilizada para se referir a distúrbios do desenvolvimento da linguagem, geralmente identificados na infância.
No dia a dia, os dois termos são confundidos ou vistos como sinônimos. É importante entender essa diferença para evitar erros de interpretação.
Assim, quando falamos de afasia neurológica, estamos falando de uma condição que se adquire ao longo da vida. Geralmente, isso ocorre após um evento que afetou o cérebro.
Causas da afasia
A afasia é sempre causada por um problema neurológico. Esse problema afeta áreas do cérebro que controlam a linguagem. Estas estão principalmente no hemisfério esquerdo, como a área de Broca e a área de Wernicke.
Veja, a seguir, as principais causas da afasia:
1. Acidente Vascular Cerebral (AVC)
O AVC é a causa mais comum da afasia. Quando ocorre uma interrupção ou redução do fluxo sanguíneo cerebral, as células nervosas responsáveis pela linguagem podem sofrer danos. A gravidade da afasia vai depender da extensão da lesão e do tempo de resposta no tratamento.
2. Traumatismo cranioencefálico
Batidas fortes na cabeça, acidentes de trânsito ou quedas podem gerar lesões cerebrais que comprometem as áreas da linguagem. Nesses casos, a afasia pode ser temporária ou permanente, dependendo do grau do trauma.
3. Tumores cerebrais
O crescimento de tumores em regiões relacionadas à linguagem pode comprimir tecidos cerebrais e gerar dificuldades de comunicação. Tanto tumores benignos quanto malignos podem estar associados ao desenvolvimento da afasia.
4. Infecções e inflamações cerebrais
Condições como encefalite e abscessos cerebrais, embora menos comuns, também podem afetar o funcionamento da linguagem.
5. Doenças neurodegenerativas
Em alguns casos, a afasia está ligada a doenças de progressão lenta, como na afasia progressiva primária (APP). Esse tipo específico está associado à degeneração gradual de regiões do cérebro e pode ser confundido com outras doenças, como o Alzheimer.
Por isso, muitas vezes o termo afasia neurológica é usado para reforçar que a origem está diretamente ligada a alterações cerebrais. Independentemente da causa, quanto mais cedo ocorre o diagnóstico, maiores são as chances de reabilitação.
Tipos de afasia
A afasia pode se manifestar de diferentes formas, dependendo da região do cérebro afetada. Para organizar essa classificação, os especialistas geralmente dividem em afasias fluentes e não fluentes.
Afasias fluentes
Nas afasias fluentes, a pessoa consegue falar em ritmo normal, mas o conteúdo da fala pode ter erros, trocas de palavras ou falta de sentido. A compreensão costuma estar prejudicada.
Afasia de Wernicke (ou receptiva)
- Característica principal: fala com ritmo normal, mas sem sentido.
- O paciente pode inventar palavras ou trocar termos, dificultando a compreensão.
- A pessoa geralmente não percebe que está falando de forma confusa.
Afasia de condução
- O paciente consegue compreender bem e fala de forma relativamente fluente.
- O problema está em repetir palavras ou frases: quando solicitado, apresenta grande dificuldade.
Afasia anômica (ou nominal)
- Dificuldade em encontrar as palavras certas (principalmente substantivos).
- A fala é compreensível, mas marcada por pausas e substituições, como “coisa” ou “aquilo”.
Afasia transcortical sensorial
- Muito parecida com a afasia de Wernicke, mas com a diferença de que o paciente consegue repetir palavras e frases com facilidade.
Afasias não fluentes
Nas afasias não fluentes, a produção de fala é limitada, lenta e com esforço. A compreensão, por outro lado, tende a ser preservada em maior grau.
Afasia de broca (ou expressiva)
- A fala é curta, com frases incompletas e muito esforço.
- O paciente compreende bem o que ouve, mas tem dificuldade para transformar pensamento em palavras.
- Muitas vezes, a pessoa está consciente da sua limitação, o que pode gerar frustração.
Afasia global
- É a forma mais grave de afasia.
- A pessoa apresenta grandes dificuldades tanto para falar quanto para compreender.
- Geralmente ocorre em lesões extensas no hemisfério esquerdo.
Afasia transcortical motora
- Muito semelhante à afasia de Broca, mas o paciente consegue repetir palavras e frases.
- O discurso espontâneo, entretanto, é muito limitado.
Afasia progressiva primária (APP)
Diferente das demais, a APP não é causada por um evento súbito (como AVC), mas sim por doenças neurodegenerativas.
- Os sintomas aparecem de forma lenta e gradual.
- Aos poucos, a pessoa perde a capacidade de se expressar ou compreender a linguagem.
- Muitas vezes é confundida com Alzheimer ou outras demências, mas tem características próprias.
Sintomas
Os sintomas da afasia variam de acordo com o tipo e a gravidade da lesão cerebral. Em linhas gerais, a condição afeta a produção da fala, a compreensão da linguagem, a leitura e a escrita.
Confira os sinais mais comuns.
1. Dificuldades na fala (afasia da fala)
- Frases curtas e incompletas.
- Uso incorreto de palavras (por exemplo, dizer “copo” em vez de “mesa”).
- Trocas de sons ou sílabas (parafasias).
- Invenção de palavras inexistentes (neologismos).
- Fala arrastada, lenta e com esforço (especialmente na afasia de Broca).
2. Problemas de compreensão
- Dificuldade em entender o que os outros dizem, especialmente quando a fala é rápida ou complexa.
- Em alguns casos, o paciente pode ouvir normalmente, mas não consegue atribuir significado às palavras.
3. Alterações na leitura e na escrita
- Perda parcial ou total da capacidade de ler e compreender textos.
- Escrita com erros de gramática, trocas de palavras e frases sem sentido.
4. Repetição comprometida
- Alguns tipos de afasia dificultam a repetição de frases simples (como na afasia de condução).
- Em outros casos, a repetição está preservada (como na transcortical).
5. Percepção da dificuldade
- Em certos tipos, como a afasia de Broca, a pessoa percebe sua limitação e pode ficar frustrada.
- Já na afasia de Wernicke, o paciente geralmente não tem consciência de que está falando de forma incoerente.
É fundamental lembrar que a afasia não afeta a inteligência, mas sim a capacidade de transformar pensamentos em linguagem. Isso significa que, mesmo diante das dificuldades de comunicação, a pessoa continua raciocinando e compreendendo o mundo ao seu redor.
>> Leia sobre névoa mental, fenômeno que compromete a clareza de raciocínio
Diagnóstico de afasia
O diagnóstico da afasia é feito por meio de uma combinação de avaliação clínica, testes específicos de linguagem e exames de imagem. O objetivo é identificar a presença do distúrbio, determinar o tipo de afasia e compreender a causa da lesão cerebral.
1. Avaliação clínica inicial
O primeiro passo é realizado por médicos (geralmente neurologistas) e fonoaudiólogos. Eles observam:
- se a fala é fluente ou não fluente;
- a capacidade de compreender instruções simples;
- o uso de palavras corretas ou trocadas;
- a articulação e o ritmo da fala.
Essa análise já permite levantar hipóteses sobre o tipo de afasia.
2. Testes de linguagem e neuropsicológicos
São aplicados protocolos que avaliam diferentes habilidades.
- Nomeação: pedir para a pessoa nomear objetos ou imagens.
- Repetição: repetir palavras ou frases.
- Compreensão: seguir comandos simples e complexos.
- Fluência verbal: avaliar o número de palavras que consegue produzir em um tempo curto.
- Leitura e escrita: verificar a capacidade de compreender textos e escrever frases.
Esses testes ajudam a diferenciar, por exemplo, se a dificuldade é maior na expressão ou na compreensão.
3. Exames de imagem cerebral
Para confirmar a causa da afasia, são realizados exames de imagem, como:
- tomografia computadorizada (TC): muito usada em casos de AVC agudo;
- ressonância magnética (RM): fornece mais detalhes sobre a área e a extensão da lesão.
Esses exames ajudam a localizar a região afetada do cérebro, o que auxilia tanto no diagnóstico quanto no planejamento do tratamento.
4. Exames complementares
Em alguns casos, podem ser pedidos exames de sangue, EEG e avaliações do coração. Isso ajuda a investigar causas como infecções ou problemas na circulação do cérebro.
Tratamento e prognóstico
O tratamento da afasia é centrado na fonoaudiologia, que estimula fala, compreensão, leitura e escrita com exercícios específicos. O início precoce da terapia é fundamental para melhores resultados.
Em casos mais complexos, a reabilitação envolve também neurologistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais, garantindo o cuidado multidisciplinar.
O apoio da família é muito importante. Paciência e empatia são essenciais. Usar estratégias de comunicação alternativa, como gestos, aplicativos e quadros de palavras, ajuda a diminuir o isolamento do paciente.
Quem tem afasia pode voltar a falar?
Sim. Muitos pacientes conseguem recuperar parcial ou totalmente a fala, dependendo da gravidade da lesão e do engajamento no tratamento. Mesmo nos casos mais severos, a reabilitação melhora a qualidade de vida.
Dicas práticas para conviver
Conviver com alguém que tem afasia exige paciência, empatia e adaptação. Pequenas mudanças no modo de se comunicar podem facilitar bastante a vida do paciente e também reduzir a frustração de familiares e cuidadores.
- Fale de forma simples e devagar: use frases curtas, claras e dê tempo para a resposta.
- Olhe nos olhos: contato visual ajuda na concentração e transmite confiança.
- Use gestos e recursos visuais: apontar, escrever ou desenhar facilita a compreensão.
- Não corrija toda hora: valorize a mensagem, mesmo que a fala não esteja perfeita.
- Tenha paciência: respeite o ritmo da conversa.
- Inclua o paciente nas interações: manter a participação social é parte do tratamento.
Perguntas frequentes sobre afasia:
O que é um paciente com afasia?
É uma pessoa que sofreu uma lesão cerebral (geralmente por AVC, trauma ou doença neurológica) e apresenta dificuldade de falar, compreender, ler ou escrever.
Qual exame detecta afasia?
O diagnóstico é clínico, com testes de linguagem e exames de imagem como tomografia e ressonância magnética.
Qual a diferença entre afasia e Alzheimer?
Na afasia, o principal problema é a comunicação. No Alzheimer, além da linguagem, há comprometimento de memória, raciocínio e outras funções cognitivas.
Quais são os tipos de afasia?
Principais: de Broca, de Wernicke, global, de condução, anômica, transcorticais e a progressiva primária.
Qual a afasia mais grave?
A afasia global, que compromete tanto a fala quanto a compreensão.
A afasia é um distúrbio da comunicação que, apesar de desafiador, pode ser tratada e controlada com diagnóstico precoce e acompanhamento especializado. Por isso, informação, prevenção e apoio familiar são imprescindíveis para garantir qualidade de vida ao paciente.
Referências:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Afasia. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/afasia/
- CUF. Afasia: o que é, sintomas e tratamento. Disponível em: https://www.cuf.pt/saude-a-z/afasia
- BRASIL. Ministério da Saúde. Pouco conhecida e muito comum em idosos, afasia tem tratamento integral e gratuito no SUS. Brasília, 5 abr. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/abril/pouco-conhecida-e-muito-comum-em-idosos-afasia-tem-tratamento-integral-e-gratuito-no-sus
- Scielo. Intervenções em afasia: uma revisão integrativa. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rcefac/a/xdSTnMzwDxY9s6pYcP4ZvKm/?format=html&lang=pt
- PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. Entenda o que é afasia, condição que causa um distúrbio de linguagem. Disponível em: https://prefeitura.sp.gov.br/web/saude/w/noticias/327415
- Scielo. Afasia pós-traumática. Disponível em: https://www.scielo.br/j/anp/a/BvzLX5YRXBXsFd5wFqtgsnq/?format=html&lang=pt