Nos últimos anos, a crise climática deixou de ser um risco distante. Enchentes, secas severas e ondas de calor se tornaram parte da rotina em várias regiões do mundo.
Esses eventos extremos afetam não só o ambiente, mas também o bem-estar emocional das pessoas. É nesse contexto que surge a ecoansiedade: tipo de sofrimento psicológico relacionado ao futuro do Planeta.
Neste conteúdo, vamos explorar o que é a ecoansiedade, quais são seus sintomas, por que ela está crescendo e como lidar com os efeitos desse fenômeno na saúde mental.
O que é ecoansiedade?
A ecoansiedade é o nome dado ao sofrimento psicológico causado pelas mudanças ambientais que vivemos hoje.
Embora ainda não seja classificada como transtorno mental, ela é reconhecida por especialistas como uma reação legítima à crise climática. E está se tornando cada vez mais comum.
A Associação Americana de Psicologia descreve a ecoansiedade como o “medo crônico de um cataclismo ambiental”. Essa sensação surge diante das incertezas sobre o futuro do Planeta e da própria vida.
Com o aumento de eventos extremos, como enchentes, ondas de calor e queimadas, esse tipo de angústia vem ganhando destaque. E não afeta apenas quem sofre diretamente os impactos dos desastres.
Pessoas que acompanham essas situações pelas notícias, redes sociais ou mesmo por relatos de amigos e familiares também podem ser afetadas.
É o que já acontece em diversos países, inclusive no Brasil, onde crianças, adolescentes e populações mais vulneráveis estão entre os grupos que mais sentem essa pressão emocional.
Segundo relatório da UNICEF, mais de 40 milhões de crianças e adolescentes no País estão expostos a múltiplos riscos climáticos e ambientais, número que representa quase 60% dessa faixa etária.
Como a ecoansiedade surgiu e por que está crescendo?
O sentimento de angústia relacionado ao futuro do Planeta começou a ganhar força nos últimos anos, mas os impactos emocionais que ele descreve não são novos. Desde a década de 1990, estudiosos já discutiam esse assunto.
Em 2017, a American Psychological Association definiu o conceito como “medo crônico de catástrofes ambientais”.
A crescente frequência de desastres naturais e o aumento do acesso à informação ajudaram a ampliar a percepção coletiva sobre os efeitos da emergência climática. Não é mais possível ignorar o problema, e isso tem cobrado um preço emocional alto.
Hoje, a ecoansiedade está entre os temas que mais mobilizam psicólogos, educadores e lideranças ambientais no mundo.
Pesquisas recentes apontam que, quanto maior o nível de consciência ecológica e acesso à informação, maior é a tendência a desenvolver sentimentos de angústia, frustração ou impotência diante da crise climática.
Sintomas e impactos da ecoansiedade na saúde mental
A ecoansiedade pode se manifestar de maneiras diferentes em cada pessoa, mas há um padrão comum de sintomas físicos, emocionais e comportamentais.
Os mais comuns incluem:
- sensação constante de angústia ou tristeza;
- insônia ou sono agitado;
- irritabilidade e mudanças de humor;
- dificuldade de concentração;
- crises de ansiedade ou pânico;
- sensação de impotência diante da crise climática.
Em casos mais graves, a ecoansiedade pode desencadear transtornos como ansiedade generalizada, depressão ou estresse pós-traumático, especialmente quando associada à vivência de desastres ambientais.
Além disso, estudos apontam que jovens e pessoas com maior consciência ambiental tendem a sentir culpa ou desesperança com mais intensidade, o que pode agravar o sofrimento psíquico.
A saúde mental comunitária também é impactada. Comportamentos como retração social, aumento de agressividade e desconfiança entre grupos sociais têm sido registrados em regiões atingidas por secas, enchentes e queimadas.
Por isso, entender a ecoansiedade como resposta real e legítima ao contexto ambiental é essencial para prevenir agravamentos e orientar ações de cuidado psicológico.
Grupos mais afetados pela ecoansiedade
Crianças e adolescentes estão entre os mais impactados emocionalmente pelas mudanças climáticas. Ainda em fase de desenvolvimento, podem ter mais dificuldade para processar sentimentos como medo, insegurança e desesperança em relação ao futuro.
Estudo internacional coordenado pela Universidade de Yale revelou que jovens brasileiros relataram sintomas como pânico, insônia e tristeza profunda ao falar sobre o estado do Planeta.
Idosos também podem ser afetados, especialmente aqueles que enfrentam desastres ambientais ou têm a saúde já fragilizada.
A sensação de impotência diante das transformações e a preocupação com o bem-estar das próximas gerações podem desencadear quadros de ansiedade ou depressão.
Além da idade, fatores como histórico de saúde mental, grau de exposição a eventos climáticos e acesso limitado a serviços de saúde contribuem para maior vulnerabilidade.
Entender quem mais sente os efeitos da ecoansiedade é fundamental para oferecer acolhimento adequado e evitar agravamentos.
Diferença entre ecoansiedade e outras formas de ansiedade
Apesar de compartilhar sintomas com outros tipos de ansiedade, como preocupação excessiva, insônia e alterações de humor, a ecoansiedade tem origem específica: a crise ambiental.
Enquanto a ansiedade tradicional muitas vezes está ligada a questões individuais, como trabalho, relacionamentos ou saúde, a ecoansiedade nasce da percepção coletiva de ameaça, ligada ao futuro do Planeta e à sobrevivência das próximas gerações. Ela também pode vir acompanhada de sentimentos de culpa ou frustração.
Outro termo relacionado é a solastalgia, definida como a sensação de sofrimento causada por mudanças ambientais no local onde a pessoa vive. É uma espécie de desconforto emocional diante da degradação do território conhecido, como o bairro, a cidade ou a paisagem natural ao redor.
Por isso, profissionais de saúde mental apontam que a abordagem terapêutica pode precisar ser diferente.
Em vez de apenas aliviar os sintomas, o cuidado com a ecoansiedade passa também por criar espaços seguros para falar sobre o tema, acolher emoções legítimas e transformar o sofrimento em ação consciente e engajada.
Como lidar com a ecoansiedade: estratégias e cuidados
Diante de um problema tão amplo quanto a crise climática, é comum sentir-se paralisado ou sobrecarregado. Mas existem formas saudáveis de acolher e lidar com a ecoansiedade no dia a dia.
O primeiro passo é reconhecer esse sentimento como legítimo. Negar ou minimizar o sofrimento pode aumentar o impacto emocional. Falar sobre o tema com pessoas de confiança ou buscar apoio profissional também ajuda a elaborar as emoções de forma mais equilibrada.
Além disso, algumas estratégias podem aliviar os sintomas. Confira!
- Estar em contato com a natureza: passar mais tempo em ambientes naturais contribui para a redução do estresse e da ansiedade.
- Participar de ações coletivas: envolver-se em iniciativas ambientais, como hortas urbanas, reciclagem ou mutirões de limpeza, pode transformar a angústia em ação positiva.
- Consumir informações com equilíbrio: manter-se informado é importante, mas o excesso de notícias negativas pode gerar sobrecarga. Vale a pena dosar o tempo de exposição e buscar fontes confiáveis.
- Cuidar do corpo e da mente: hábitos como boa alimentação, sono regular, atividade física e técnicas de respiração auxiliam no controle da ansiedade.
Em casos mais intensos, a ajuda de profissionais de saúde mental é fundamental. Psicoterapia e grupos de apoio são caminhos possíveis para quem precisa de suporte mais estruturado.
Por que reconhecer e enfrentar a ecoansiedade importa
A ecoansiedade é um reflexo legítimo do tempo em que vivemos. Não se trata de exagero ou sensibilidade em excesso, mas de uma resposta emocional diante de ameaças reais e cada vez mais presentes.
Reconhecer esse sofrimento é o primeiro passo para lidar com ele de forma saudável. Isso vale tanto para quem vive situações extremas quanto para quem sente, de longe, o peso das mudanças no Planeta.
É fundamental criar espaços de acolhimento, fortalecer vínculos comunitários e investir em ações que ajudem a transformar a angústia em participação.
Falar sobre ecoansiedade também é uma forma de cuidar da saúde mental coletiva. Porque só conseguimos enfrentar os desafios do clima se estivermos emocionalmente preparados para agir juntos.