Nem sempre o nascimento ocorre no tempo esperado. Em todo o mundo, milhões de bebês iniciam a vida antes do momento ideal, ainda em fase de desenvolvimento no útero. Segundo um relatório conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Unicef, publicado em 2023, mais de 13,4 milhões de crianças nasceram prematuramente em 2020, o que representa 1 em cada 10 nascimentos no planeta. No Brasil, a estimativa é de aproximadamente 340 mil casos por ano.
A prematuridade é considerada hoje uma “emergência silenciosa” global. Embora muitas pessoas acreditem que nascer um pouco antes “não faz tanta diferença”, cada semana de desenvolvimento dentro do útero representa um ganho significativo em maturidade respiratória, neurológica, imunológica e metabólica. Por isso, o tema vai além da medicina, envolve também aspectos sociais, familiares e emocionais.
Compreender o que é a prematuridade, suas causas, classificações e os cuidados mais importantes contribui para reduzir riscos, orientar famílias e, principalmente, promover o desenvolvimento saudável dos bebês que chegam antes do tempo. Este guia reúne informações atualizadas e oferece uma visão ampla e integrada sobre o tema.
O que é prematuridade?
A prematuridade é caracterizada pelo nascimento que ocorre antes de 37 semanas completas de gestação, de acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em uma gestação típica, espera-se que o parto aconteça entre 38 e 40 semanas; quando o bebê nasce antes desse período, é considerado prematuro, também chamado em termos médicos de recém-nascido pré-termo.
O grau de prematuridade influencia diretamente o prognóstico clínico, o padrão de desenvolvimento e a necessidade de suporte especializado. Quanto menor a idade gestacional no momento do parto, maior o risco de complicações respiratórias, neurológicas e metabólicas, já que muitos sistemas do corpo ainda não atingiram a maturidade necessária.
Classificação básica da prematuridade segundo a OMS
| Classificação | Semanas de gestação | Descrição |
| Prematuro tardio | 34 a 36 semanas e 6 dias | Em geral apresentam boa evolução, mas podem ter dificuldades alimentares e respiratórias leves |
| Prematuro moderado | 32 a 33 semanas e 6 dias | Necessitam de suporte maior e monitoramento respiratório |
| Muito prematuro | 28 a 31 semanas e 6 dias | Alto risco de complicações, geralmente requerem UTI neonatal |
| Prematuro extremo | Menos de 28 semanas | Maior complexidade clínica e chance de sequelas; sobrevida depende de recursos assistenciais |
Quanto mais cedo ocorre o parto, mais a equipe de saúde precisa intervir para substituir o que ainda seria fornecido pelo útero: calor, nutrição controlada, proteção imunológica e um ambiente seguro para o desenvolvimento neurológico.
Quais são as causas e fatores de risco da prematuridade?
A prematuridade não tem uma única causa. Ela é descrita pelos especialistas como “multifatorial”, ou seja, decorre da combinação de fatores maternos, fetais e contextuais. Em muitos casos, mesmo com um pré-natal adequado, o parto prematuro pode acontecer — razão pela qual a vigilância médica é essencial.
1) Fatores maternos
- Hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia
- Diabetes não controlado
- Infecções urinárias e infecciosas não tratadas
- Doenças autoimunes
- Tabagismo e consumo de álcool
- Estresse crônico
- Desnutrição ou carência de micronutrientes
- Idade materna extrema (menores de 17 ou maiores de 40 anos)
- Histórico prévio de parto prematuro
2) Fatores fetais
- Gestação múltipla (gêmeos, trigêmeos etc.)
- Restrição de crescimento intrauterino
- Malformações congênitas
- Alterações da placenta (descolamento, placenta prévia)
- Amniorrexe prematura (rompimento precoce da bolsa)
3) Fatores socioambientais
- Baixo acesso ao pré-natal
- Distância de serviços de saúde especializados
- Exposição a ambientes de alta carga física ou estresse ocupacional
- Violência doméstica
- Condições socioeconômicas desfavoráveis
Fatores evitáveis x fatores inevitáveis
Nem todos os motivos podem ser prevenidos. Porém, alguns fatores são modificáveis — especialmente os relacionados ao cuidado materno, nutrição, controle de doenças e acompanhamento durante a gestação.
| Tipo de fator | Exemplos | Pode ser prevenido? |
| Maternos controláveis | tabagismo, álcool, controle de diabetes | Sim |
| Maternos não modificáveis | idade extrema ou histórico gestacional | Parcialmente |
| Fetais | malformações, placenta prévia, gestação múltipla | Não |
| Contextuais | falta de acesso à saúde | Com políticas públicas |
A maior parte dos estudos ressalta que o pré-natal adequado é a principal ferramenta de prevenção. É durante ele que podem ser detectados sinais precoces de risco e adotadas medidas de proteção para prolongar a gestação pelo maior tempo possível.
Parto pré-termo: quando ocorre e o que significa?
Embora muitas pessoas utilizem os termos “parto pré-termo” e “prematuridade” como sinônimos, existe uma diferença técnica importante: prematuridade descreve o estado do recém-nascido (bebê que nasce antes de 37 semanas), enquanto parto pré-termo descreve o evento obstétrico — ou seja, o momento em que a gestação termina antecipadamente.
Um parto é considerado pré-termo quando ocorre antes de 37 semanas completas, independentemente do motivo. Ele pode acontecer de forma:
| Tipo de parto pré-termo | Característica | Exemplo |
| Espontâneo | O trabalho de parto inicia naturalmente | Dilatação, contrações regulares e ruptura espontânea da bolsa |
| Induzido por recomendação médica | Iniciado devido a risco materno ou fetal | Pré-eclâmpsia grave, sofrimento fetal, infecções, risco iminente à saúde da mãe ou do bebê |
Em casos específicos, o parto pré-termo é uma medida de proteção, e não um “erro” fisiológico — especialmente quando a continuidade da gestação representa risco à vida da gestante ou do feto.
Panorama no Brasil
O Brasil está entre os países com maiores índices de prematuridade na América Latina. Apesar da redução leve ocorrida nos últimos anos (de 12% para cerca de 11,1%), o número ainda é considerado elevado quando comparado a países com maior cobertura de pré-natal e acompanhamento perinatal especializado.
Graus de prematuridade e classificações
A classificação da prematuridade não se baseia apenas no número de semanas, mas também em marcos de viabilidade, isto é, nos limites reais de sobrevivência e maturidade dos órgãos.
Quanto mais cedo o nascimento ocorre, maior a necessidade de suporte intensivo e maior o risco de complicações.
Classificação detalhada (com riscos associados)
| Categoria | Semanas de gestação | Riscos clínicos mais frequentes |
| Prematuro extremo | < 28 semanas | Imaturidade pulmonar acentuada, alta chance de hemorragia intracraniana, maior dependência ventilatória |
| Muito prematuro | 28 a 31 semanas e 6 dias | Possível displasia broncopulmonar, apneias, dificuldade alimentar, maior tempo de internação |
| Prematuro moderado | 32 a 33 semanas e 6 dias | Desafios respiratórios leves a moderados, dificuldade na sucção, ganho de peso gradual |
| Prematuro tardio | 34 a 36 semanas e 6 dias | Podem aparentar maturidade, mas têm risco de icterícia, hipoglicemia e fadiga ao mamar |
Taxa de sobrevivência por idade gestacional
A OMS e associações neonatais internacionais divulgam estimativas de sobrevida que variam conforme estrutura hospitalar, país e acesso ao cuidado intensivo. Em média:
| Semanas de gestação | Taxa média de sobrevivência | Observação |
| 22 semanas | 2% a 15% | Limite de viabilidade; exige suporte extremo |
| 23 semanas | 15% a 40% | Sobrevida aumenta com acesso a UTI neonatal especializada |
| 26 a 28 semanas | 75% a 85% | Maturação pulmonar mais avançada |
| 29 a 32 semanas | 90% a 95% | Alta chance de evolução favorável |
| 33 a 36 semanas | > 95% | Geralmente boa evolução, com cuidados clínicos pontuais |
Esses dados ajudam a compreender uma dúvida muito comum:
Por que nascer com 7 meses costuma ter maior sobrevida que nascer com 8 meses?
Isso acontece porque o nascimento com 32 semanas (7º mês) geralmente coincide com maior maturidade pulmonar e neurológica do que o nascimento no começo do 8º mês (cerca de 34 semanas), período em que alguns bebês ainda podem enfrentar instabilidade respiratória e dificuldade de coordenação da sucção. Além disso, a “curva de maturação” varia de bebê para bebê. Por isso, o acompanhamento médico individualizado é essencial.
Cuidados com o bebê prematuro
Os cuidados com o bebê prematuro começam nas primeiras horas após o nascimento e seguem por toda a infância, especialmente nos casos de prematuridade moderada, muito prematura ou extrema. O foco principal, no início, é substituir ou complementar funções que o útero ainda desempenharia, oferecendo um ambiente protegido, nutrição adequada e suporte ao desenvolvimento.
Cuidados na UTI neonatal
A internação em UTI neonatal é indicada quando o bebê ainda não apresenta maturidade suficiente para respirar com autonomia, manter a temperatura corporal ou se alimentar de forma eficiente. Nesses casos, uma equipe multiprofissional acompanha o recém-nascido de forma contínua, monitorando:
- Respiração (oxigenação e frequência)
- Controle térmico
- Alimentação (sonda ou leite materno adaptado)
- Controle de infecções
- Crescimento e ganho de peso
- Reflexos neurológicos
Um dos métodos reconhecidos mundialmente por seu impacto positivo é o método canguru, que consiste no contato pele a pele entre o bebê e o cuidador. Além de fortalecer o vínculo afetivo, ele ajuda no controle da temperatura, na estabilização cardiorrespiratória e melhora a amamentação.
Critérios de alta hospitalar
A alta ocorre quando o bebê já apresenta estabilidade clínica e capacidade de manter funções básicas sozinho. Em geral, os critérios mais utilizados incluem:
- Consegue manter a temperatura corporal sem incubadora
- Ganha peso de forma contínua
- Consegue mamar (peito ou fórmula) com segurança
- Está clinicamente estável
- Não apresenta episódios frequentes de apneia
O peso ideal de alta varia conforme o hospital e o perfil de risco, mas costuma ficar entre 1,8 kg e 2,2 kg.
Cuidados em casa: o que muda na rotina
Após a alta, a família assume o papel principal no cuidado. Esse é um momento de transição importante, em que surgem dúvidas e inseguranças — o que é natural. Algumas orientações tornam esse período mais seguro:
Sono
- Preferencialmente em posição supina (de barriga para cima).
- Ambiente calmo, sem excesso de estímulos.
- Colchão firme, sem travesseiros ou protetores laterais.
Alimentação
- Intervalos podem ser menores do que o habitual.
- Alguns bebês precisam de acompanhamento fonoaudiológico para sucção.
- O aleitamento materno é estimulado, mas pode ser associado a complemento em alguns casos.
Higiene e proteção
- Higienização cuidadosa das mãos dos cuidadores.
- Evitar ambientes fechados e aglomerações nos primeiros meses.
- Reduzir exposição a vírus respiratórios, especialmente no inverno.
Checklist prático para casa

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Desenvolvimento do bebê prematuro: o que esperar?
O desenvolvimento de um bebê prematuro ocorre em um ritmo diferente do de um bebê nascido a termo, principalmente nos primeiros meses. Por isso, os profissionais utilizam o conceito de idade corrigida — ou seja, a idade que o bebê teria se tivesse nascido na data prevista.
Exemplo:
- Se o bebê nasceu com 32 semanas (8 semanas antes do termo completo), quando ele tiver 4 meses cronológicos, terá cerca de 2 meses de idade corrigida.
Por quanto tempo a idade corrigida é usada?
Em geral, até os 2 primeiros anos de vida, embora alguns pediatras utilizem correção até os 3 anos em prematuros extremos.
Marcos de desenvolvimento
| Área | O que pode ser diferente | Quando observar |
| Motor | Pode haver atraso para rolar, sentar e andar | Acompanhamento fisioterapêutico ajuda |
| Alimentar | Dificuldade inicial na sucção ou coordenação | Apoio de fonoaudiólogo |
| Cognitiva | Estímulos mais graduais | Interação, leitura, fala suave |
| Social | Maior necessidade de contato físico | Método canguru e colo terapêutico |
Estimulação precoce
O termo “estimulação precoce” se refere a intervenções realizadas ainda na primeira infância para favorecer o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional. Isso pode envolver:
- Fisioterapia neuroevolutiva
- Fonoaudiologia para alimentação e linguagem
- Terapia ocupacional
- Brincadeiras guiadas e interação sensorial
Essas intervenções não indicam deficiência, e sim potencialização do desenvolvimento. Quanto mais cedo o suporte é oferecido, maior a chance de evolução plena ao longo do tempo.
Sequelas e complicações possíveis
Apesar dos avanços da neonatologia terem aumentado de forma importante a taxa de sobrevivência de bebês prematuros — inclusive em casos extremos — o nascimento antecipado ainda pode estar associado a complicações de curto e longo prazo. O risco varia conforme a idade gestacional, o peso ao nascer e o tempo de internação.
Complicações mais frequentes
| Tipo de complicação | Exemplos | Por que acontece |
| Respiratórias | Síndrome do desconforto respiratório, apneias, displasia broncopulmonar | Pulmões imaturos |
| Neurológicas | Hemorragia intracraniana, dificuldades motoras, paralisia cerebral em casos graves | Sistema nervoso ainda em desenvolvimento |
| Visuais e auditivas | Retinopatia da prematuridade, alterações auditivas | Exposição precoce ao ambiente externo |
| Metabólicas | Hipoglicemia, dificuldade de ganho de peso | Baixa reserva energética |
| Imunológicas | Infecções recorrentes | Sistema imunológico imaturo |
É possível prevenir sequelas?
Em muitos casos, sim. A principal forma de reduzir riscos é proteger o desenvolvimento após o nascimento, o que envolve:
- Cuidado especializado na UTI neonatal
- Uso do método canguru
- Aleitamento materno sempre que possível
- Evitar infecções nos primeiros meses
- Acompanhamento multidisciplinar regular
- Estimulação precoce orientada
A combinação desses fatores melhora não apenas a sobrevida, mas também a qualidade de vida a longo prazo — inclusive em bebês considerados prematuros extremos.
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Novembro Roxo: a campanha de conscientização
O Novembro Roxo é o movimento internacional de sensibilização sobre a prematuridade. A data central é o dia 17 de novembro, conhecido como o Dia Mundial da Prematuridade, criado para alertar sobre as principais causas, consequências e formas de prevenção.
A campanha destaca que a prematuridade não é apenas uma condição clínica: é também uma questão de saúde pública e acolhimento familiar. Ao dar visibilidade ao tema, iniciativas do Novembro Roxo reforçam a importância do pré-natal, do acesso a maternidades preparadas e do acompanhamento ao desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida.
Mais do que uma data simbólica, o movimento lembra que cada semana importa no desenvolvimento intrauterino e que toda gestante deve ter acesso à informação de qualidade e apoio especializado.
FAQ — Perguntas frequentes
1. Qual o conceito de prematuridade segundo a OMS?
É quando o bebê nasce antes de 37 semanas completas de gestação.
2. Um bebê de 20 semanas pode sobreviver?
A medicina considera o “limite de viabilidade” entre 22 e 24 semanas, e mesmo nesses casos a sobrevida é muito baixa.
3. Quanto tempo o bebê é considerado prematuro?
O termo é utilizado até que o desenvolvimento seja equiparável ao de um bebê nascido a termo, o que costuma ocorrer até os 2 anos (idade corrigida), podendo se estender até os 3 anos em prematuros extremos.
4. Qual o peso ideal para um bebê prematuro sair do hospital?
A maioria das maternidades utiliza entre 1,8 kg e 2,2 kg como referência, associado à estabilidade clínica.
5. O que é parto pré-termo espontâneo?
É quando o trabalho de parto começa naturalmente antes das 37 semanas, sem indução médica.
6. Como cuidar de um bebê prematuro em casa?
É importante manter o ambiente tranquilo, seguir as orientações sobre amamentação, evitar aglomerações, monitorar ganho de peso, estimular o contato pele a pele e seguir consultas médicas frequentes.
Conclusão
A prematuridade continua sendo um desafio global para a saúde materno-infantil, mas os avanços na assistência neonatal têm permitido que cada vez mais bebês prematuros cresçam com qualidade de vida. Informar-se é uma das formas mais eficazes de prevenir riscos, reconhecer sinais de alerta e oferecer aos recém-nascidos o suporte adequado em cada etapa do desenvolvimento.
Ao compreender que cada semana importa e que o cuidado começa antes mesmo do nascimento, famílias e profissionais podem contribuir de forma ativa para um início de vida mais seguro, protegido e saudável.






